A discussão sobre a ética em relação a abertura e manutenção de vias na escalada é um assunto antigo. Acrescentar proteções para facilitar as progressões e diminuir o grau de dificuldade, é uma estratégia utilizada por esportistas com menor arrojo ou técnica ou por guias profissionais com objetivo de facilitar a subida dos clientes.
No Canionismo esse problema é ainda maior. Convívio entre esportistas com diferentes formações, técnicas e anseios, somados à pratica comercial e até turismo de massa, tornam a atividade um verdadeiro caos. Canionismo é muito diferente de fazer rapel em cachoeira, é necessário conhecimento multidisciplinar, entre elas: orientação, meteorologia, progressão vertical especifica, desescaladas e progressão aquática.
Os aberturistas, praticantes que descem o cânion pela primeira vez, através da técnica de progressão, podem elevar ou diminuir a dificuldade desse cânion. Formas de diminuir a dificuldade: instalar as proteções longe do curso d’água, fazer a instalação com saídas confortáveis, rapéis guiados, fazer o descenso durante os meses mais secos (inverno). Formas de elevar a dificuldade: instalações no curso d’água, instalações expostas, fracionamentos, instalar o mínimo de proteções, abrir esse cânion nos meses com maior caudal.
A disciplina aquática é realmente um “divisor de águas“ para a atividade. Considerada pela maioria dos canionistas a mais difícil, é responsável por grande parte dos acidentes. A cereja do bolo do esporte cria dificuldades praticamente em todo o percurso do cânion. São agrupadas em:
• Hidráulicas: os famosos movimentos d’água (refluxo, drosagem, marmitas, corrente principal, etc.). Todas as dificuldades que o praticante convive, imerso na água.
• Rapéis Aquáticos: necessidade de gestão na aproximação, descenso e recepção. As dificuldades que o praticante convive, com o uso de uma corda das mais variadas formas de ancoragens.
A escolha dos pontos de ancoragem e como irão ser instalados depende da experiencia durante as instalações e adoção de normas básicas de segurança. Padrões Internacionais definem dois pontos mínimos em ancoragens, fracionamentos, entrada e saída de corrimãos e desvios com ângulos superiores a 30°.
Acrescentar ou retirar proteções em cânions já abertos é a maior causa dos desentendimentos entre nós canionistas. Alguns esportistas podem realizar a abertura, visando um descenso mais técnico, por isso, as ancoragens apesar de seguir as normas internacionais de segurança, serão pontuais. Outros descensos podem ser igualmente técnicos, porém, com uma maior quantidade de proteções (geralmente corrimãos), destinados a descensos com maior caudal, efetuado entre os meses de outubro à março. Por outro lado praticantes que fazem seus descensos durante a época de menor caudal não irão necessitar de tantas proteções, porque esse descenso se torna fácil com menor necessidade técnica e pouca exposição. Ainda existem as instalações para a pratica comercial ou campo escola, essas proteções são instaladas geralmente longe do curso d’água, com maior conforto para os praticantes, etc.
Antes de alterar, acrescentar ou retirar uma proteção, peça as informações ao(s) aberturistas(s), verifique se as normas de segurança foram respeitadas(dois pontos), se foi realizada apenas a descida de abertura. Respeitar a maior ou menor técnica dos praticantes ou suas preferências é importante para o convívio. Somos apenas um pequeno grupo.
Luiz Lo Sardo Neto
Instrutor Canionismo
GBCan.
Olá, devido a alguns acidentes depois de ter escrito essas considerações sobre canionismo , vc atualizaria sua opinião em algum aspecto?
Boa tarde,
Não existe uma.relação direta do texto com os recentes acidentes no Brasil.
Na minha opinião é a falta de treinamento adequado, escolhas de tecnicas equivocadas, falta de conhecimento do meio e principalmente auto avaliação própria e do grupo em relação ao canion escolhido.
Cada praticante deve conhecer seus limites e perguntar para si mesmo se está apto a entrar no canion escolhido, na epoca do ano e nivel do caudal.